sábado, 2 de maio de 2009

Testemunho da Ana Luís

_ Então mas e qual é o teu objectivo de vida? – o caminho que aquela conversa, que nada de típico tinha num final de uma tarde de Setembro era, no mínimo, surpreendente.
_ Mudar o mundo. – Parei. Nunca teria adivinhado aquela resposta. O objectivo dele era mudar o mundo. Todos queremos mudar o mundo, é verdade. Mas responder assim, apanhou desprevenida.
_ Mudar o mundo? – Pareceu-me uma resposta vaga, afinal de contas, de quantas formas podemos mudar o Mundo?
_ Sim, fazer um grande feito, um feito que faça todos um dia lembrarem-se de mim. – Interroguei-me sobre aquela resposta e acabei por ter uma vontade enorme de o interrogar. Afinal não queria ele mudar o mundo, mas sim ser inesquecível, inesquecível como só eu hoje sei, meu grande amigo.
_ Para mudar o mundo não precisas de fazer um grande feito. – Disse eu com aquela minha cara de verdade absoluta que ninguém me tira. Julgo-me quase sempre detentora da verdade, pelo menos da minha verdade.
_ Claro que precisas. – Bem, começara a primeira discussão entre dois grandes casmurros e aqui não lhe dei ponto, não podia ser. Como teimosa, persistente, nortenha, estudante de direito e casmurra que sou tinha de expor completamente a minha ideia. Não sairia daquele passeio sem o convencer da minha perspectiva de vida.
_ Mudando a vida de uma pessoa mudas o mundo. - Concluí eu, simplesmente, naquela tarde ainda quente com inícios visíveis de Outono o objectivo de toda a minha existência.

Esta frase é a razão porque hoje estou aqui. Acredito, genuinamente, que mudo assim o Mundo, o meu mundo e o mundo de outra pessoa, agarrando-me à certeza de não ser esquecida desta forma.
Para quê realizar grandes feitos se poderei ser o grande feito para uma pessoa? Na minha cabeça, na minha perspectiva, na minha vida, encho a minha vulgar existência apenas assim.
Encontrei no Pumap, a base para a concretização. Encontrei nos olhos dos antigos pumadores o brilho quando falam desta experiência que um quererei ter. Encontrei naquelas pessoas uma família que acredita neste projecto tanto quanto eu. Encontrei depois da primeira selecção o meu primeiro grande desafio. Encontrei a partir daí uma superação constante a mim mesma. Encontrei naquelas reuniões uma “eu” que desconhecia. Encontrei naqueles cafés antes das reuniões grandes pessoas. Encontrei nos Bairros crianças que me ficaram para toda a vida no coração. Encontrei em cada lembrança me dada lá a satisfação do esforço que faço. Encontrei naquele email a avisar que tinha sido seleccionada definitivamente um projecto, o meu primeiro pequeno e verdadeiro projecto. Encontrei em todas as actividades que fazemos algo que saí das minhas próprias mãos. Encontrei no cansaço de cada reunião uma satisfação. Encontrei em cada discussão uma beleza nos outros. Encontrei em cada obstáculo mais força. Encontrei naquele grupo irreverência. Encontrei num simples projecto de papel uma realidade que levanto todos os dias com a minha força, eu e mais onze pessoas magnificas. Encontrei na minha ida a 1 de Julho uma enorme vontade e um frio na barriga. Encontrarei naquelas horas de voo a certeza do que faço. Encontrarei naquele povo a mudança da minha vida. Encontrarei no sorriso daquelas crianças uma forma de enfrentar o mundo. Encontrarei naqueles dois meses uma Ana que superará mais do que pensou que conseguiria. Encontrarei naquela escola uma razão para justificar a minha existência: tentar dar um futuro idolatrado a criança com futuro perdido. Encontrarei naquela casa mais do que amigos, uma família. Encontrarei naquela cor uma pureza maior que a minha. Encontrarei naqueles olhares uma energia que vou querer sugar para toda a vida. Encontrarei naquele ar húmido uma nova forma de caminhar. Encontrarei naquela realidade uma nova verdade. Encontrarei em cada pôr-do-sol uma boa razão para viver mais um dia. Encontrarei naquela terra a minha própria mudança do Mundo.

_ Mudando a vida de uma pessoa, mudas o mundo.
Acredito friamente nisto, sonho com isto. E acreditando que somos do tecido de que são feitos os nossos sonhos, eu sou a Ana, uma rapariga de 20 anos quase feitos, uma pequena leitora de livros, uma simples constante ouvinte de música, uma habitante deslocada, uma teimosa por natureza, uma fala-barato e uma “sem papas na língua” sem remédio, uma sonhadora insistente, uma forte crente nas suas ideias, uma detestável maníaca de ter sempre a razão e de a provar a todos, uma sorridente por natureza, uma irremediável devoradora de chocolate, uma vulgar estudante nortenha de direito que sendo do tecido desta apaixonante iniciativa, ingenuamente ou não, acredita que nos meses de Julho e Agosto irá mudar o mundo.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Testemunho da Joana Santos

Sempre me considerei uma céptica por natureza, mas há dois anos atrás, com a minha chegada a Lisboa eis que vejo esta minha descrença abalada. Ao chegar à faculdade, já atrasada para mais uma aula, entre uma dentada numa maçã e uma música nos ouvidos, fui abordada em plena Avenida de Berna por uma senhora, pelo aspecto cigana. Sem que tivesse muito tempo para falar ou fazer alguma coisa, já tinha a minha mão na mão desta suposta cigana, que entre gestos imperceptíveis e rezas estranhas me disse o seguinte: “Olhe menina, este ano não começou para si da melhor forma, mas tudo o que mais deseja e quer acontecerá! É tudo uma questão de tempo!”
E lá lhe dei umas moedas, ri-me para mim própria e pensei sozinha: “Deves ter este discurso decorado para todos os que te aparecem à frente!”
Mas o que é certo é que mesmo assim o raio da suposta cigana não me saía da cabeça, porque numa coisa ela tinha razão, o ano em Lisboa não me tinha começado realmente da melhor forma, e havia muitos planos e sonhos por concretizar que me pareciam cada vez mais distantes e impossíveis, no meio de uma conjuntura tão conturbada, tanto quanto aquela em que se tinha transformado a minha vida.
Um destes sonhos que aqui falo era precisamente a vontade de fazer voluntariado lá fora, uma coisa mais séria, que me permitisse dar mais de mim aos outros, pois o que tinha feito até à altura tinha-me ainda sabido a muito pouco.
Crenças, ou descrenças à parte, o que é certo é que para mim o voluntariado foi realmente uma questão de tempo, uma vez que ainda em 2007 deixei por muito pouco escapar a oportunidade de me inscrever no projecto, e já em 2008 não deixei escapar esta oportunidade, e em Outubro, freneticamente, preenchi a ficha de candidatura, e a partir daí o tempo deu tempo ao próprio tempo…
Primeiro que tudo, o PUMAP porquê? Porque tinha a vantagem de ser sido criado por alunos da minha Universidade, a Universidade Nova, e esse seria à partida um vínculo importante, e depois porque através de pesquisas e outros testemunhos me pareceu um projecto livre, leve e com todas as condições que eu andava à procura.
O PUMAP era o caminho que se tornava em Novembro cada vez mais próximo com a chegada do mail que me presenteava com o facto de ter sido seleccionada para o grupo dos 24, dos quais depois seriam subtraídos os 16 finalistas.
Ainda me lembro do dia da apresentação dos 24 escolhidos. Cheguei mais uma vez atrasada, vi uma sala repleta de caras desconhecidas, porém não me senti mal, nem envergonhada, senti-me em casa, com gente que a partir dali iriam fazer também parte do meu sonho e juntamente comigo torná-lo possível.
E foi precisamente isso que aconteceu nos meses que se seguiram. Fins-de-semana no meu grande Alentejo, um ataque às missas, uma animada e lucrativa festa de Carnaval, reuniões tardias, ideias, discussões, sugestões, mais discussões, opiniões, e outra vez discussões.
Em Março é chegado o momento do veredicto final, estavam encontrados os 13 magníficos, como assim fomos apelidado pelo nosso coordenador no mail que anunciava os nomes dos seleccionados.
A notícia chegou-me primeiro por mensagem, e a explosão foi enorme! Lembro que deu um salto enorme (ainda hoje me pergunto como consegui), e gritei a pulmões apertos: “Consegui, consegui!!!”
O PUMAP deixou então de ser um sonho, e é hoje a minha melhor certeza.
Digo-o aqui sem falsas modéstias que somos um PUMAP previligiado, com pessoas que embora diferentes, são iguais na hora de unir esforços e empenho. Por isso mesmo, essa garra e vontade que nos distingue, faz de nós um PUMAP especial e diferente, que não se limitou a resignar perante as evidências de um ano de crise, transformando-o num ano alternativo, feito de ideias consistentes, arrojadas, e que fazem de nós, até ao momento, uns verdadeiros vencedores.
E mesmo que muitos pensem que isto parece cliché, tipicamente para parecer bem, o que é certo é que aqueles que me conhecem sabem que não será verdade.
Não estou mais que a constatar factos, e embora o nosso querido coordenador tenha sempre uma ou outra crítica para nos fazer, o que é certo, é que todos nós, de formas diferentes já provámos porque é que merecíamos chegar até aqui.
O meu nome é Joana, continuo a assumir-me como uma profunda céptica, mas ao pensar naquele dia e naquela cigana, hoje apetecia-me encontrá-la outra vez na rua e dizer-lhe que ela tinha toda a razão! O PUMAP foi uma questão de tempo para mim, mas quando veio, veio para fazer parte de mim e daquilo que é hoje a minha vida!

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Testemunho da Mariana Torgal

Olá a todos os pumapicos/pumapianos/pumapeiros/ e todos os mais diversos nomes que já ouvi…

Quero antes de mais explicar a minha demora. Há dois fortes motivos: 1º criar suspense para primeira aparição, 2º não ter percebido como se ‘post’ qualquer testemunho (não percebo muito de blogues)

Bem, mas vamos ao que interessa, querem saber um pouco sobre mim? Se não querem porque estão a ler?! Não vos entendo…

Sou a Mariana Torgal, tenho vinte anos e sou do Porto. Aventurei-me por terras mouriscas para frequentar o curso de economia após a tentativa em vão de estudar nas melhores universidades em Inglaterra Politics and International Relations. Lá estou eu a dar uma bonita impressão de mim, mas isso é porque vocês ainda não sabem a história, vou vos contar… Eu estudei numa escola Inglesa e completei o 12º ano no Porto como se estivesse em Inglaterra. Para entrar numa faculdade lá é fácil MAS para ser seleccionado para eventualmente entrar (conditional offers) nas melhores faculdades é outra história. Enfim como não me podia dar ao luxo de endividar os meus pais numa faculdade menos boa lá fora achei por bem ficar em PT (PARA JÁ) e mais tarde então aventurar por terras longínquas sejam elas onde forem. Como já perceberam ou deviam, ambiciono ir estudar para fora e quiçá ficar, ADORO VIAJAR.

Agora que já sabem um pouco de mim, vou vos falar do PUMAP09. Infelizmente já ficaram para trás pessoas que gostava muito que fossem e não podia deixar de as mencionar, mas por outro lado também vos digo com todo o orgulho que o nosso grupinho é MUITO BOM. Há de tudo um pouco, vamos lá ver como nos aguentamos no big brother da casa com 16 pessoas (!) - confesso que é o que mais receio embora vá tranquila e de espírito aberto espero não assistir a conflitos infindáveis.

Para já são estas as minhas impressões, embora esteja lançada para escrever muito mais acho que não vos devo aborrecer mais! Desafio os meus queridos pumap09 a escreverem qualquer coisinha para não me deixarem aqui sozinha com o meu triste testemunho!

Beijo a todos
Mariana

Testemunho do Diogo Belo

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O PUMAP surgiu para mim no meu primeiro ano da faculdade e na altura eu e uma colega estávamos muito interessados em nos inscrever. No entanto, por razões académicas foi-me totalmente impossível pensar nisso. A minha colega inscreveu-se mas não passou das primeiras fases de recrutamento, pelo que o programa continuou a ser uma incógnita para mim. Desde essa altura que tinha o desejo secreto de fazer parte deste programa e de descobrir mais acerca do PUMAP.

O desejo voltou quando terminei o meu programa Erasmus em Estocolmo, na Suécia, e me deparei com um cenário muito próximo: estava prestes a terminar a minha licenciatura, com 21 anos, não me sentia preparado para ir trabalhar, e tinha gostado tanto da minha experiência internacional que queria voltar a sair do país mas desta vez para um local diferente. Além disso conhecia várias pessoas que tinham feito voluntariado e me diziam sempre que era algo bastante enriquecedor e que achavam que tinha muito a ver comigo. Quando chegou Setembro e regressei às aulas, tinha algum tempo livre, já que só estava inscrito a 3 cadeiras, e resolvi tentar. Ao longo de todo o processo de recrutamento, e já com as primeiras reuniões, fui-me apercebendo cada vez melhor do que era a realidade do programa, mas sempre com muitas dúvidas do que seria na prática.

Desde início que o grupo se reuniu com bastante frequência, tivemos fins-de-semana todos juntos que correram extremamente bem, fizemos jantares com a presença dos antigos membros, com a direcção da AHEAD, e tudo isso ajudou a que aos poucos nos fossemos conhecendo melhor.

A angariação de fundos é uma parte ingrata do projecto, mas essencial. Com isto os financiamentos alternativos e as discussões (saudáveis) que se geravam entre todo o grupo sem excepção, todos com vontade de participar e dar a sua opinião. A experiência no Bairro da Boavista é talvez já uma amostra do que vamos encontrar em Moçambique. Os miúdos são muitos, difíceis, cheios de energia, e nós, os explicadores, temos de saber dividir as nossas emoções, já que, mesmo que o dia nos esteja a correr mal, ao final da tarde temos de estar prontos para eles pois eles estão a contar connosco.

Em Moçambique espero encontrar um ambiente muito particular no seio do grupo. Durante 2 meses vamos ficar todos juntos numa casa e será essencial sabermos dirimir da melhor forma quaisquer conflitos que possam surgir. Espero encontrar também uma realidade social totalmente diferente da nossa – afinal de contas estamos a falar do continente africano – e conseguir lidar da melhor maneira com os desafios que advierem. Uma vez que vou dar o módulo de finanças, espero sinceramente conseguir ser claro nas ideias que quero transmitir e desta forma, ser o mais útil possível aos que acreditam no PUMAP e depositam confiança nas nossas capacidades.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Após muitos pedidos...

Olá a todos os pumadores!

Finalmente, uma nova tentativa de criar um blog sobre as aventuras e desventuras de cada PUMAP tem aqui o seu pontapé de saída!

Através desta fantástica ferramenta da nova era da informação, o PUMAP 2009 deseja expressar as suas expectativas e os seus receios, os seus feitos e os seus falhanços e muito mais a todos os voluntários das edições anteriores e a toda e qualquer pessoa interessada no no PUMAP.

Desta maneira, espero que este blog se torne um ponto de encontro entre todos os membros do Programa, o que possibilitará uma melhor transmissão dos valores e espírito do PUMAP às gerações vindouras. Contudo, ao dizer isto não pretendo menosprezar que boa parte da riqueza deste projecto vem das particularidades da personalidade de cada participante, que fazem com que cada um tenha uma contribuição única e rica para melhorar o programa. Cada ano tem um algo a dizer.

Em resumo, este blog foi criado com a expectativa de ser mais um veículo pelo qual poderemos melhorar o contributo das sucessivas edições do PUMAP. Por outras palavras, queremos que desta maneira possamos tocar com mais força e carinho no âmago das necessidades de quem ajudamos, nomeadamente as crianças do Bairro da Boavista, do Centro Boa Esperança de Xipamanine e da Escola Primária Maxaquene-Khovo e os estudantes universitários de Maputo.

Viva o PUMAP!